A economia circular ganha cada vez mais relevância global como uma resposta estratégica e eficaz ao modelo linear tradicional de consumo baseado no extrair, produzir e descartar.
Segundo dados do Relatório Circularity Gap Report (CGR) de 2025, apresentado no Fórum Mundial de Economia Circular 2025 (WCEF), a circularidade global caiu para 6,9%.
O que isso significa? O relatório indica que menos de 7% dos materiais utilizados no mundo são secundários, ou seja, apenas 6,9% dos resíduos foram recuperados e reinseridos na cadeia produtiva após o fim de sua vida útil.
Esse número evidencia que o modelo linear de produção baseado em extrair, produzir e descartar ainda predomina na economia global e impacta significativamente no âmbito ambiental e social.
A América Latina, apesar de registrar uma das menores taxas de reciclagem globalmente, está em um ponto crucial, unindo esforços para promover a economia circular e buscar modelos de desenvolvimento mais sustentáveis.
Seja pela pressão ambiental, pela preocupação global e pela urgente demanda de soluções regenerativas, países como Chile, Colômbia, México e Brasil já implementam políticas públicas e estratégias nacionais voltadas à circularidade, com foco em resíduos, inovação e inclusão social.
Nesse cenário, parcerias estratégicas entre governos, empresas e organizações internacionais já estão em curso, como, por exemplo, a Coalizão Regional de Economia Circular para América Latina e o Caribe, coordenada pelo PNUMA, que reúne 17 países da AL e conta com o apoio de outras organizações globais.
Ficou interessado em saber mais sobre o impacto da economia circular na América Latina? Continue a leitura e descubra os desafios enfrentados e os caminhos a serem seguidos para um crescimento regenerativo e sustentável.
Panorama da economia circular na América Latina
A América Latina abriga 8,3% da população mundial e atua predominantemente no modelo econômico linear, caracterizado pela extração intensa de matérias-primas, produção e descarte.
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a AL contribui com cerca de 10% da extração mundial de matérias-primas, percentual que mostra o potencial de riqueza natural da região e o seu compromisso ambiental perante a gestão responsável desses recursos.
Infelizmente, dados do Circularity Gap Report 2023 (CGR) indicam que o índice de circularidade da América Latina é de apenas 0,3%, um índice muito abaixo da média global que é 6,9%, que também é insatisfatório.
Desafios ambientais e socioeconômicos da região
Quando falamos em impacto da economia circular na América Latina, é importante destacar que a região enfrenta uma série de desafios interligados, como, por exemplo:
- desperdício de alimentos,
- gestão ineficiente de resíduos,
- desigualdade social e pobreza.
O relatório chamado Perspectiva sobre a Gestão de Resíduos na América Latina e no Caribe, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), aponta que apenas 10% dos resíduos gerados na América Latina e no Caribe são reaproveitados por meio de reciclagem ou outras formas de recuperação e reinseridos na cadeia produtiva.
Um terço dos resíduos urbanos na América Latina e Caribe ainda é descartado de forma inadequada, seja em lixões ou diretamente no meio ambiente. Essa prática contamina o solo, a água e o ar, resultando em sérios impactos negativos para a saúde pública, a biodiversidade e o clima.
Diariamente, cerca de 145 mil toneladas de lixo são descartadas de forma inadequada na região.
América Latina e o Caribe enfrentam um desafio significativo: o desperdício anual de aproximadamente 127 milhões de toneladas de alimentos, enquanto 47 milhões de pessoas na região sofrem de fome.
Falando especialmente de Brasil, cerca de 26,3 milhões de toneladas de comidas são desperdiçadas anualmente, quantidade suficiente para alimentar dezenas de milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar
Nesse cenário, a economia circular surge como estratégia poderosa e eficiente para:
- reduzir o desperdício,
- reaproveitar recursos,
- promover a inclusão dos mais vulneráveis,
- gerar dignidade, integrando soluções ambientais e sociais.
Segundo o estudo Completing the Picture: How the Circular Economy Tackles Climate Change (Completando a figura: como a economia circular ajuda a enfrentar as mudanças climáticas), publicado pela Fundação Ellen MacArthur:
- 55% das emissões globais de gases de efeito estufa podem ser mitigados por meio da transição energética,
- a economia circular tem um alto potencial para reduzir os 45% restantes.
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O papel das parcerias regionais e globais
A transição para uma economia circular na América Latina ganha força com parcerias entre governos, empresas, população e entidades internacionais.
Nesse cenário, a Coalizão Regional de Economia Circular para América Latina e o Caribe, coordenada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), surge como uma força colaborativa essencial.
Reunindo 17 países, incluindo o Brasil, a coalizão promove políticas públicas, capacitação técnica e projetos piloto que aceleram a transição circular na região.
Além do PNUMA, a coalizão conta com o apoio de entidades estratégicas, como:
- Fundação Ellen MacArthur, referência global em economia circular,
- Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e BID Invest, que viabilizam investimentos em infraestrutura sustentável,
- UNIDO (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial), com foco na transição industrial verde,
- World Economic Forum (WEF), que conecta líderes globais e promove inovação sistêmica.
Os recursos naturais da região como estímulo para a economia circular
A América Latina é uma potência mundial em recursos naturais e biodiversidade. A região abriga:
- cerca de 40% da biodiversidade do planeta,
- quase um terço da água doce do mundo,
- mais de um quarto dos manguezais,
- 57% das florestas primárias, como a Amazônia.
Toda essa abundância é explorada majoritária e estrategicamente por meio de um modelo linear de produção, baseado na extração e descarte, e que há décadas vem acumulando impactos ambientais e sociais significativos.
A economia circular representa uma abordagem inovadora e restauradora, diferenciando-se do tradicional modelo linear de “extração, produção, uso e descarte”. Em vez disso, ela defende um ciclo contínuo de recursos. Tudo isso auxilia a:
- reaproveitar os materiais ao máximo,
- transformar resíduos em novos insumos produtivos,
- redesenhar processos e produtos para evitar desperdícios e reduzir emissões.
Segundo um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), cidades da América Latina e do Caribe podem reduzir pela metade o uso de recursos naturais até 2050 se adotarem práticas circulares em alguns setores, como construção, mobilidade, saneamento e gestão de resíduos.
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Caminhos para um crescimento regenerativo e inclusivo
A economia circular oferece uma abordagem transformadora para o desenvolvimento sustentável e vai muito além da simples redução de resíduos.
Ao propor o redesenho dos processos produtivos, a valorização dos materiais e o uso eficiente dos recursos naturais, ela cria valor regenerativo, ou seja, ela propõe modelos que restauram ecossistemas, fortalecem comunidades e reduzem os impactos ambientais.
De um lado, a economia circular abre caminho para inovações tecnológicas, gerenciamento adequado dos resíduos e cadeias produtivas mais limpas e alinhadas aos objetivos do desenvolvimento sustentável.
Da mesma forma que exige maior atenção às comunidades mais vulneráveis, como catadores informais e às cadeias locais de reciclagem, garantindo a inclusão e justiça social na mudança dos sistemas produtivos.
Agora que você conferiu o impacto da economia circular na América Latina, que tal continuar a leitura e conhecer os 7 pilares da sustentabilidade?